Eu morri,
Morri por volta das dezenove horas de um domingo qualquer
Foi uma morte dolorida, suja, mentirosa, nua
Uma louca despedida do corpo de onde fui arrematado
Para um outro mundo de onde escrevo agora
Não sou Brás Cubas, nem comparem por favor,
Estou mais para Lima no cemitério dos vivos
Ou um Baudelaire de flores nas mãos
Mas não estou mais entre vós
Estou aqui num espaço diferente
Num mundo distante sem coração
Ah.... meu coração que tanto amou na vida
Suspirou, apertou, iludiu e se iludiu
Mas amou, mas aqui ele não me serve de nada
Por isso não o quero mais
Quando morri ninguém percebeu, ninguém viu
Nem mesmo o tempo viu
Dois dias depois da minha morte fui
Me achar no tempo dos vivos como zumbi
E no meu quintal parou uma nave
Que me salvou da morte animal
Que é aquela que continua matando todo dia
Eu morri,
Morri para o meu mundo concreto
Para o meu jeito certo
De quem acha que a felicidade não é estado
Para aquele que acredita que perdão é amor
Perdão é a ausência de amor
Morri,
Pra nascer de novo
Viver de novo
Amar de novo
Mais forte ainda, com mais desejo ainda
Sonhar, crer na felicidade de novo
Nasço hoje às vinte horas de uma segunda-feira
.
.
.
Nasci...
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