domingo, 29 de maio de 2011

Nada de risos e deboches

Ia esperar o mês de maio findar para escrever sobre o que vi e li a respeito dos 130 anos de nascimento de Lima Barreto, entretanto creio sofrer de um mal que me impede de ficar calado, é preciso cultivar a paciência, bem sei disso, porém perder as estribeiras por vezes muito nos serve, sobretudo na literatura. São 130 anos do nascimento do rebelde de Todos os Santos, o mulato que rasgava as noites cariocas, um notívago por excelência, do suburbano de letra incisiva que sacudia a República, do intelectual que viveu da abolição da escravatura à semana de arte moderna (e nunca fora considerado moderno, inventaram o tal de pré-moderno, notem que não falo de escolas). Os contemporâneos de Afonso Henriques de Lima Barreto, bem como de nossa geração, ainda estão longe de entendê-lo e lhe dar o devido lugar de destaque na Literatura. Peço a devida permissão ao professor L.R. Leitão para fazer uso aqui da expressão “Rebelde Imprescindível” como forma de definir este singular homem, é isso mesmo, rebelde, palavra melhor não o define. Mas vamos ao fato que está me motivando a escrever hoje sobre Lima Barreto. Li hoje um artigo, que deveria ser uma homenagem a Lima B., publicado online no Observatório da Imprensa, com o seguinte título “Riso, deboche e literatura, 130 anos do genial Lima Barreto”. E fico a me perguntar onde é que a ilustre colega jornalista ( perdoe-me não sou jornalista) Cristina Nunes de Sant´Anna vê Lima Barreto com riso? Sua literatura não é simpática, ela é crítica sem ser velada como a de Machado de Assis, e a Sra. Sant´Anna bem pontua isso em seu artigo, mas não entendo por qual motivo crer que nosso notívago de Todos os Santos ria, será da própria miséria ou da alheia? Deboche também não é bom sinônimo para a escrita de Lima B. cara colega (perdão novamente pelo uso indevido do substantivo), a Literatura de Lima Barreto não fazia gozação, isso é rebaixar sua escrita a uma mera discussão de botequim, alguém que faz piada da desgraça sofrida e que nem percebe o quão miserável é, e fica a fazer troça do governo. Nenhum jornal rendera uma homenagem digna ao nosso rebelde, o artigo da Sra. Sant´Anna se prezou a isso, mas não obteve êxito, falou dos momentos históricos pelos quais a curta vida de Lima Barreto passou e num segundo momento com um subtítulo de “firme e malcriada” cometeu o absurdo de insinuar a Literatura de Lima como malcriada, assim parece até que a autora está contra o mulato suburbano das letras, a mim o termo soou mais como uma repreensão ao escritor. Creio que a Sra. Sant´Anna desconhece que Lima foi antes de mais nada um homem que lutou a vida toda, por isso imprescindível, como diria Brecht, citado pelo professor L.R. Leitão no seu livro “Lima Barreto, o rebelde imprescindível”. Sendo assim este mulato não era malcriado, a República que era grosseira com a periferia. Faltou paixão da Sra. Sant´Anna para falar do nosso “bêbado e esbodegado” (infeliz expressão da senhora Cristina Sant´Anna). Não me alongarei mais, corro sério risco de usar de “infelizes expressões” no artigo da Sra. Sant´Anna. Não era de se esperar que um jornal focado na crítica da mídia publicasse artigo à moda Imprensa Brasileira. 130 anos e o que a mídia publica de melhor em homenagem a Lima Barreto é um artigo de riso, debochado e de literário nada.


Ilha do Governador, 28-05-2011

sábado, 28 de maio de 2011

Ônibus caro de cada dia...

Há muita coisa no Rio de Janeiro que ainda não sei como se pode passar, isto só para não falar do nosso país, tão grande e vasto de cultos, crenças, raças, que ainda não se entendeu como povo apesar dos caminhos feitos, por vezes não tão suados e santos, na busca de uma identidade. E quem disse que tem de ser santo? Não, definitivamente não irei meter os santos aqui. Procura-se sim uma identidade no país dos bruzundangas, não sou entendedor do caso, porém creio a busca ser tão desnecessária quando já se tem em nossas ventas o que é ser brasileiro. Será preciso aqui escrever da miséria do cotidiano, das promessas políticas, das visitas nas favelas, das hipocrisias midiáticas, dos discursos que propagam uma ideia sem ideologia, sendo está já uma ideologia, das escolhas que os miseráveis pensar em ser-las deles, mas não o são, será preciso falar disso tudo? Creio isto ser o suficiente para saber o que é ser brasileiro, mas calma porque temos sim coisas boas, só não são boas para os brasileiros, depois de Obama afirmar poder fazer a mesma ação que fez no Paquistão em qualquer país do mundo tenho medo em pensar na nossa Defesa. Mas não vim falar do Brasil, desculpe-me o alongamento textual, coisa de miserável brasileiro sem dinheiro e escrever passa a ser terapia e tenho que aproveitar, ainda tenho caneta, já paga, pelo menos isso não me vão cobrar. Não entendo como uma cidade dita maravilhosa, de povo maravilhoso pode aceitar políticos tão descarados com o dinheiro público, há aqui uma prática muita costumeira no Brasil, melhor fingi não ver para melhor passar. Os Jettas foram o último golpe contra o povo, os vereadores alegam ter necessidade para o trabalho, concordo é necessário um meio de locomoção já que ao longo do tempo fizeram tanta marginalidade (que fique bem claro aqui que me refiro à questão distância quando se tem como referência o centro do Rio) que ir de Campo Grande para o Centro do Rio é uma odisséia, Av. Brasil nos assusta e honra muito bem o nome que tem. Mas é muita hipocrisia cada vereador ter um Jetta, carro nada popular e se dispensa aqui os seus acessórios, para ir “trabalhar” enquanto a passagem dos ônibus, sempre lotados, e do metrô aumentam, peço licença aos sociólogos para fazer a pergunta, não há aqui paradoxo? Ou só é omissão com o povo? Entretanto desta vez a população ganhou, o dinheiro dos Jettas será devolvido, mas para onde irá não se sabe, talvez um Bora, Civic, Hilux... Se me permitem tenho uma sugestão: se os nobres vereadores alegaram a compra milionária dos carros por motivo de trabalho, nada mais justo à população carioca também gozar deste direito e por isso sugiro que os caciques de paletó irem de ônibus e metrô, e cada carioca ganhe um Jetta, um Bora ou uma Hillux e com combustível porque esse também está muito caro. Melhor parar por aqui a tinta da caneta pode acabar e aí passarei a pagar para escrever.

Ilha do Governador, 23-05-2011 

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Escritor

Talvez não seja escritor
Alguém já falou, você formou professor
O que sou?
Tudo num só?
Talvez
Mas aí o que vem de mim que é escritor?
E o professor?
O pai, a mãe, o irmão, o filho, onde está?
E de todas maneiras eu sou
Sou o que sou
E o que soou neste "sou"?
Não sou eu só eu
Disso sei que sou
Um presente atravessado por todos os presentes
Talvez seja isso
Só não é nada.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pedra

Cuspiu e esculpiu
O que era belo virou
Pedra
Forma mais bela assumiu
Meus poemas secos
Nada dizem, só gritam
Pedra! Pedra!

domingo, 1 de maio de 2011

Com Devoção

Ando com muita saudades
Muita saudade de Tu
Saio de você, mas você não sai de mim
Estes versos sem rima não me importam
Tu me importa mais
Falar de Tu me importa mais
Sem sintaxe, que me deixe em paz!
Tu me importa mais
Mas
Estou indo embora
Vou me embora
Com aflição
Minha devoção
É para você
Mas
Tu vai comigo
O espaço vai ser pequeno
Pra tanta saudade
Meu Deus
Que aflição
Mas cheio de devoção
E no meio dessa estrada
Que faço por conhecer
Tu me ilumina
Me ilumina
A minha ignorância
Talvez me tenha mandando pra longe
Longe de Tu
Mas o coração vai contigo
Que aflição longe de ti Terra
Que devoção, com devoção.